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A gemologia estuda os materiais aplicados na joalharia (com excepção dos metais) e esses materiais provêm de universos tão distintos como o da mineralogia, geologia e biologia onde existem regras de nomenclatura bem definidas. Será que a gemologia deve usar rigorosamente essa nomenclatura ou haverá tolerâncias na atribuição dos nomes destes materiais?
Os chamados materiais gemológicos que se usam na joalharia e em certas artes decorativas têm origens diversas, podendo ser minerais, rochas, fósseis, substâncias biogénicas e demais produtos artificiais (e.g pedras sintéticas, pedras compostas). Cada um destes materiais é já alvo de estudo outros ramos do conhecimento, neste caso de ramos da ciência, que vão da mineralogia (e.g. minerais: diamante, quartzo, malaquite) à petrologia sedimentar, metamórfica e magmática (e.g. rochas: lápis lazúli, obsidiana), passando pela paleontologia (e.g. fósseis: ammollite, marfim de mamute), zoologia (e.g. gemas biogénicas de origem animal: pérola, concha, coral), botânica (e.g. gemas biogénicas de origem vegetal: corozo, copal) e física do estado sólido (e.g. produtos artificiais: zircónia cúbica, esmeralda sintética).
Existem, portanto, ramos do conhecimento científico que abordam estes materiais e todos eles comunicam os seus dados e conhecimentos de acordo com nomenclatura e léxico próprios desses meios académicos. Acontece que a gemologia nasceu em finais do séc. XIX , não da ciência, mas sim da necessidade que o mercado encontrava na identificação de materiais e na detecção de imitações. Neste universo próximo do grande público, existem nomes comerciais que, por tradição, estão adquiridos pelo consumidor que, via de regra, não terá superiores conhecimentos científicos. Daqui se entende que, recorrentemente, existem designações no meio comercial que diferem das que são usadas no maio académico, um pouco, talvez, como o vernáculo popular para designar maleitas que difere dos termos médicos usados pelos profissionais de saúde (e.g. ranho vs corrimento nasal).
Cumpre esclarecer que a Gemologia não é uma ciência, como as demais atrás referidas, sendo outrossim um conjunto de metodologias que permite a identificação e caracterização de materiais, ditos gemológicos, que são usados como produtos num sector de actividade: a joalharia (e em certos objectos decorativos). A gemologia estuda, assim, tudo o que possa eventualmente decorar uma jóia, desde o mais caro diamante ao mais vulgar vidro. Não se descura aqui, antes pelo contrário, o enorme papel e contributo dos vários ramos do conhecimento científico para o avanço e para a actividade da gemologia. Cumpre sublinhar que, actualmente, os principais laboratórios gemológicos têm nos seus quadros técnicos cientistas, muitos deles com nível superior a doutoramento, com teses e artigos publicados sobre pedras preciosas, suas imitações, tratamentos e sintéticos. Não se dissocia completamente a actividade gemologia da ciência, todavia não se devem confundir os planos de acção destas duas realidades: uma de mercado e outra académica.
A CIBJO - The World Jewellery Confederation, elabora as normas de nomenclatura nos Blue Books disponíveis em www.cibjo.org |
A AORP - Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal publicou recentemente recomendações de nomenclatura para materiais gemológicos no quadro do RJOC - Regime Jurídico da Ourivesaria e Contrastarias, aqui. |
Se há casos em que a nomenclatura mineralógica, geológica ou biológica é praticamente coincidente com a nomenclatura gemológica (e.g. diamante, malaquite, topázio), outros há em que tal não acontece, cumprindo que se faça a sua necessária contextualização, referenciação e escrutínio pela comunidade gemológica, não raras vezes frequentadora assídua dos meios académicos. A CIBJO - The World Jewellery Confederation tem desempenhado o papel de apreciação das designações comerciais dos materiais, ligando-os à nomenclatura científica, e sempre com preocupação de clarificação da terminologia e na resolução de eventuais ambiguidades. Nos Blue Books (Gemstone Book, Diamond Book, Pearl Book, Coral Book), os materiais estão listados com determinadas designações e, se aplicável, relacionados com os seus nomes aceites na comunidade científica, apresentando nomes comerciais (trade names) aceites para cada um dos materiais abordados. A principal preocupação destas regras de nomenclatura prende-se com a desambiguação e clarificação dos termos para uma eficiente, clara e justa comunicação de produto ao longo da cadeia de distribuição, até ao consumidor.
No caso das pérolas e corais, por exemplo, são referidos os taxa actuais de cada espécie na linguagem binomial própria da biologia (género e espécie), aludindo-se a nomes vernaculares aceites das espécies, neste caso em inglês ou nas línguas autóctones de onde os organismos produtores de substâncias gemológicas biogénicas são produzidos ou pescados. O mercado não recorre a nomes científicos para apresentar pérolas e corais, usando, outrossim, designações comerciais próprias. Por exemplo, pérola de cultura das Fiji corresponde às pérolas de cultura produzidas na ostra perlífera das Fiji - Pinctada margaritifera var. typica (Linnaeus 1758); o coral granada corresponde ao coral do cor vermelha escura do coral do Hawaii Hemicorallium regale (Bayer, 1956). Não faria sentido tanta elaboração, todavia há que saber exactamente o que significam as designações comerciais aceites e, nessa matéria, os profissionais têm desejavelmente que estar a par para comunicar bem com fornecedores e clientes.
No campo da nomenclatura dos minerais, a referência é o IMA - International Mineralogical Association que publica e actualiza regularmente os nomes aceites e obsoletos de todos os minerais conhecidos. Veja-se este exemplo: para um mineralogista “iolite” é uma designação obsoleta e desprovida de significado científico, ao passo que para um gemólogo e na joalharia, "iolite" já é o nome de uma pedra preciosa à qual, por sua vez, a mineralogia designa de “cordierite”. Ilustrando esta problemática veja-se o caso da turmalina, um dos mais interessantes na diferença entre nomenclatura científica e gemológica. Com todo o rigor, a turmalina não é um mineral, mas sim um vasto e complexo grupo de espécies minerais (borosilicatos) com semelhante estrutura e com composição química variável, sendo que os seus nomes se definem precisamente com base na sua composição. Nomes como schorlite, dravite, elbaíte, fluor-liddicoatite, rossmanite, uvite, ferro-uvite, foitite, buerguerite, entre outros, são termos conhecidos dos mineralogistas, mas totalmente desconhecidos pela maioria do sector que contacta frequentemente variedades gemológicas destes minerais. No mercado, as designações baseiam-se essencialmente na cor e expressões, tais como, por exemplo, “turmalina rosa” ou rubelite, “turmalina verde” ou verdelite, “turmalina azul” ou indicolite, “turmalina melancia” e “turmalina paraíba”, não se diferenciando aqui o tipo químico ou mineralógico, situação que é perfeitamente aceite pela gemologia e pelo mercado. Refira-se, como ilustração desta tolerância gemológica, o caso de algumas turmalinas rosas ou “rubelites” que tanto podem ser elbaítes como fluor-liddicoatites, espécies minerais diferentes, mas que são designadas pelo mercado apenas como turmalinas rosas. Poderíamos elencar mais exemplos, explorando, por exemplo, as designações variadas associadas à palavra jade que, em rigor, aludem a rochas com determinada composição e não a minerais. E muito mais haveria para debater neste particular.
No caso das pérolas e corais, por exemplo, são referidos os taxa actuais de cada espécie na linguagem binomial própria da biologia (género e espécie), aludindo-se a nomes vernaculares aceites das espécies, neste caso em inglês ou nas línguas autóctones de onde os organismos produtores de substâncias gemológicas biogénicas são produzidos ou pescados. O mercado não recorre a nomes científicos para apresentar pérolas e corais, usando, outrossim, designações comerciais próprias. Por exemplo, pérola de cultura das Fiji corresponde às pérolas de cultura produzidas na ostra perlífera das Fiji - Pinctada margaritifera var. typica (Linnaeus 1758); o coral granada corresponde ao coral do cor vermelha escura do coral do Hawaii Hemicorallium regale (Bayer, 1956). Não faria sentido tanta elaboração, todavia há que saber exactamente o que significam as designações comerciais aceites e, nessa matéria, os profissionais têm desejavelmente que estar a par para comunicar bem com fornecedores e clientes.
Estas pérolas de cultura produzidas na Pinctada margaritifera var. typica (Linnaeus, 1758) são comercialmente conhecidas como "Pérolas de cultura Fiji" © JHunter Pearls Fiji |
No campo da nomenclatura dos minerais, a referência é o IMA - International Mineralogical Association que publica e actualiza regularmente os nomes aceites e obsoletos de todos os minerais conhecidos. Veja-se este exemplo: para um mineralogista “iolite” é uma designação obsoleta e desprovida de significado científico, ao passo que para um gemólogo e na joalharia, "iolite" já é o nome de uma pedra preciosa à qual, por sua vez, a mineralogia designa de “cordierite”. Ilustrando esta problemática veja-se o caso da turmalina, um dos mais interessantes na diferença entre nomenclatura científica e gemológica. Com todo o rigor, a turmalina não é um mineral, mas sim um vasto e complexo grupo de espécies minerais (borosilicatos) com semelhante estrutura e com composição química variável, sendo que os seus nomes se definem precisamente com base na sua composição. Nomes como schorlite, dravite, elbaíte, fluor-liddicoatite, rossmanite, uvite, ferro-uvite, foitite, buerguerite, entre outros, são termos conhecidos dos mineralogistas, mas totalmente desconhecidos pela maioria do sector que contacta frequentemente variedades gemológicas destes minerais. No mercado, as designações baseiam-se essencialmente na cor e expressões, tais como, por exemplo, “turmalina rosa” ou rubelite, “turmalina verde” ou verdelite, “turmalina azul” ou indicolite, “turmalina melancia” e “turmalina paraíba”, não se diferenciando aqui o tipo químico ou mineralógico, situação que é perfeitamente aceite pela gemologia e pelo mercado. Refira-se, como ilustração desta tolerância gemológica, o caso de algumas turmalinas rosas ou “rubelites” que tanto podem ser elbaítes como fluor-liddicoatites, espécies minerais diferentes, mas que são designadas pelo mercado apenas como turmalinas rosas. Poderíamos elencar mais exemplos, explorando, por exemplo, as designações variadas associadas à palavra jade que, em rigor, aludem a rochas com determinada composição e não a minerais. E muito mais haveria para debater neste particular.
Turmalina rosa, ou rubelite, com 6,11 ct. Mas deveremos chamar-lhe elbaíte ou fluor-liddicoatite? © Clear Cut Gems |
Por muito tentador que seja para um mineralogista ou académico do universo das ciências da Terra corrigir os nomes comerciais de certas pedras, há que fazer prevalecer o bom senso e entender que a gemologia, como suporte a uma actividade económica, não é uma ciência e que os nomes utilizados referem produtos e não amostras científicas. Não fará sentido descrever pedras num anel como fluor-liddicoatite rosa (turmalina rosa), forsterite (peridoto) ou zoisite (tanzanite). A CIBJO neste particular tem, relembre-se, um papel importante pois estabelece com clareza o que pode e não pode ser tolerado, em nome da confiança do consumidor, em sintonia com o desejável rigor científico que tais nomes devem sustentar e, numa análise destas regras, constata-se que o que prevalece no grupo de trabalho que discute estas regras é, fundamentalmente, rigor e bom senso.
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