Lesotho Legend de 910 quilates sai por $40 milhões

Descoberto no Lesotho no passado dia 12 de Janeiro, o gigante de 910 quilates, o quinto maior com qualidade gemológica alguma vez reportado, foi vendido em Antuérpia cerca de 2 meses depois por 40 milhões de dólares.

O Lesotho Legend, com 910 quilates, do tamanho de uma bola de golf! Foto Gem Diamonds

A história começa em 1957 quando diamantes foram descobertos no Lesotho, um pequeno reino com uns meros 30.000 quilómetros quadrados situado no interior da República da África do Sul. Passados alguns anos, iniciou-se a extração deste minério nas duas chaminés quimberlíticas produtivas, Letšeng-la-Terai (ou simplesmente Letseng) e Satelite, que foram produzindo quantidades muito pequenas de diamantes, apesar de pedras grandes aparecerem, tal como o enorme Lesotho Brown com 601,26 quilates descoberto em 1967. Na década de 1980 quase não houve produção e no final dos anos 1990 a Letseng Diamonds Pty adquire os direitos de exploração, iniciando-se em 2003 uma nova fase de produção com infra-estruturas modernas para a optimização dos processos nas duas chaminés quimberlíticas diamantíferas, assim como em zonas de aluvião circundantes.

A cerca de 3000 de altitude, executam-se as operações de exploração de diamantes na mina de Letseng.

A mina de Letšeng-la-Terai, situada a mais de 3000 de altitude nas montanhas Maluti e já com uma cratera de 120 metros de profundidade, é a mais importante apesar de ter baixo teor de diamantes (cerca de 1,9 quilates por cada 100 toneladas de minério) e de apresentar produção anual modesta. De acordo com dados oficiais, o Lesotho produziu em 2016 apenas cerca de 342.000 quilates de diamantes, mais 38.000 do que em 2015, que quando comparados com os mais de 20,5 milhões de quilates do Botswana, constituem uma cifra pequena. A fama da mina decorre, todavia, das gemas de grande qualidade e tamanho apreciável acima de 100 ct que daqui procedem, em especial diamantes do tipo IIa, ou seja, diamantes sem impurezas de azoto, ou nitrogénio, detectáveis por FTIR (< 5 ppm) e que, actualmente, é responsável por cerca de 1/4 da produção mundial deste tipo de diamantes. É deste tipo de pedras que procedem os grandes diamantes incolores e muito limpos de alta qualidade, classificados como cor D e pureza Flawless ou Internally Flawless que atingem grandes valores de mercado. Comparando estatísticas, em 2016 o valor médio de preço por quilate dos diamantes produzidos no Botswana foi de $138,82/ct e no Lesotho $1065,88/ct, quase 10 vezes mais, revelando a excelência dos poucos diamantes produzidos neste pequeno reino africano.

Dumpers gigantes removem o minério onde, a cada 100 toneladas, se encontra em média 1,9 ct de diamante


Exemplos de diamantes importantes originários da mina de Letseng contam com o já referido Lesotho Brown, com 601 ct (1967), o Lesotho Promise com 603 ct (2006), o Letšeng Legacy com 493 ct (2007), o Light of Letšeng com 478 ct (2008), o Letšeng Star com 550 ct (2011) e, por fim, o Letšeng Destiny com 314 ct e Letšeng Dynasty com 357 ct (ambos em 2015). Tirando o primeiro que era castanho, todos deram origem a diamantes lapidados de cor D-IF ou FL, tendo alguns mais de 100 quilates com valores de mercado muito significativos.

No passado dia 12 de Janeiro mais um diamante se junta a este rol de pedras de grande calibre, desta vez com uns impressionantes 910 quilates, sendo o maior diamante alguma vez recuperado no país e o quinto maior diamante alguma vez descoberto, atrás do Cullinan (3106,75 ct), Lesedi la Rona (1109 ct), Excelsior (995,20 ct) e Estrela da Serra Leoa (968,9  ct). Foi classificado como do tipo IIa, o que prevê um ou mais diamantes lapidados de cor D e pureza Flawless ou Internally Flawless, e dimensões na ordem das centenas de quilates. Ainda recentemente, o grande diamante “4 de Fevereiro” com 404,20 quilates descoberto em 2016 na mina de Lulo, Angola, e lapidado pela De Grisogono num diamante D-FL em talhe esmeralda com 163,41 ct, posteriormente engastado num colar com diamantes e esmeraldas apelidado “The Art of De Grisogono - Creation 1”, foi vendido na Christie’s de Genebra em Novembro de 2017 por $33,7 milhões, um recorde à data para um diamante incolor em leilão.


(veja o vídeo - SPOA Films © Letseng Diamonds Pty e Gem Diamonds)

No passado dia 13 de Março, dois meses após a sua descoberta no terreno, decorreu um leilão, ou concurso, em envelope fechado (tender) na cidade de Antuérpia, Bélgica, a capital mundial do diamante. Não foi com total surpresa que a Gem Diamonds, empresa detentora de 70% da mina, anunciou que o valor atingido chegou aos 40 milhões de dólares, cerca de 32,5 milhões de euros. Não foi ainda revelado o comprador, mas fica-se agora na expectativa do resultado dos demorados estudos e consequente igualmente moroso e arriscado processo de lapidação deste gigante que, certamente, fará notícia tanto pelo expectável tamanho da maior gema lapidada que de lá sair como do preço de mercado que poderá atingir. Ficaremos atentos.


O grande diamante agora vendido é designado de CLIPPIR pelos cientistas e podem aqui observar-se as inclusões escuras de grande valor científico, pois são testemunhos do interior profundo do planeta. A $40 milhões, será, porventura, uma das mais caras amostras científicas de que há memória. Todavia, o seu destino será, quase certamente, a lapidação.


Imagens © Letseng Diamonds Pty e Gem Diamonds


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