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Esta é a fantástica história da troca milionária de um colar de duas voltas de pérolas naturais por uma mansão de grande aparato em plano centro de Nova Iorque, em Manhattan, que viria depois a ser a sede da Cartier nessa cidade norta-americana.
Na imagem: Retrato de Mae Caldwell Manwaring pintado por Claudia Munro Kerr a partir de uma interpretação de um original de Alphonse Junger, onde se podem ver as duas famosas fiadas de pérolas. O quadro pode ser visto na agora loja da Cartier, em Nova Iorque, na entrada da Rua 52. © Cartier
Há moradas na cidade de Nova Iorque que são icónicas e que resistiram à devassa da construção em altura que caracteriza esta metrópole norte americana. Nos alvores do séc. XX, as famílias abastadas mandavam construir casas majestosas em Manhattan e Morton F. Plant, multimilionário ligado aos caminhos de ferro, não foi excepção e queria esse estatuto e distinção social. Encomendou, assim, ao famoso arquitecto Edward W. Gibson a construção de uma mansão que se destacasse das demais e, em 1905, já estava pronta a inaugurar na esquina da 5ª Avenida com a Rua 52. Quando casa com a sua segunda mulher em 1914, a jovem Mae Caldwell Manwaring, a mansão é oferecida à noiva como presente de casamento. Todavia, o bairro não satisfazia os Plant, pois as famílias de renome (designadamente os Vanderbilt, uma das mais abastadas famílias da América) já se haviam mudado para mais perto do Central Park e, para não perderem o tal estatuto e distinção social, procuravam alternativa à sua mansão.
A mansão de Morton Plant que, no decurso da história, se vai perceber como passa para as mãos da Cartier, ficando, desde aí, a sua morada principal nos EUA. 5thAv-52th st. © Cartier |
Quando Pierre Cartier, neto de Louis-Francois Cartier que fundou a Casa em 1847, se muda para Nova Iorque em 1909, estabelece a loja da famosa joalharia da família também na 5ª avenida, estabelecimento que é visitado pelos ricos e poderosos da cidade, incluindo os Plant. Em 1916, numa visita à Cartier durante uma exposição privada do que era anunciado como a mais exclusiva e cara peça de joalharia de todos os tempos, Mae Plant, ou Maisie como era conhecida, apaixona-se por esse raro colar de pérolas cujo valor se apresentada como de 1 milhão de dólares, um valor absolutamente estratosférico à altura, mas quase em linha com o que estes colares de primeira qualidade custavam. A grande escassez de pérolas grandes e de qualidade, a enorme procura que tinham pelos mais privilegiados num contexto de mercado onde ainda não havia pérolas de cultura (introduzidas no mercado em quantidades apreciáveis apenas a partir de 1916 por Kokishi Mikimoto no Japão), colocavam a fasquia muito elevada para o custo destes artefactos.
O colar (representado no retrato, em cima) era de duas voltas graduadas de pérolas naturais dos mares do Sul de grandes dimensões, um com 73 pérolas e outro com 55, num total de 128 pérolas, que, ao que é reportado, eram de grande qualidade e perfeitamente equivalentes na cor, lustro (oriente) e qualidade de superfície. Ao que consta, Morton Plant afirmou que nenhuma jóia poderia valer 1 milhão de dólares, mas a sua mulher entendia que assim não era! Visto que a mansão era sua, propõe então à Cartier a troca do colar de pérolas pela casa, um negócio que ela, mulher de grande astúcia, sabia que tinha vantagens para todos. A mansão, entretanto já à venda, seria perfeita para que Cartier aí pudesse começar a operar com maior estilo e condições na cidade, e, para ela, seria também perfeito pois conseguiria também libertar-se do imóvel e iniciarem a mudança para o outro bairro mais chique no norte da cidade. Sabia também que, para Pierre Cartier, fechar aquela venda iria ser de superior interesse para a Casa. E assim se fez. Pagando apenas 100 dólares, os Plant transferem a propriedade para a Cartier em 1917, levando o colar de duas fiadas no bolso.
Desde esse ano que a morada da Cartier é este prédio que mantém a traça original e se tornou um ícon da cidade e um marco na sua história. Sobre o paradeiro do colar, o que se sabe é que, após a sua morte em 1956, os herdeiros de Mae Plant, agora conhecida como Mrs. John E. Rovensky, venderam o seu património num leilão da Parket-Bernet Galleries em Janeiro de 1957 onde o colar, separado em dois lotes (114 e 116), rendeu 151.000 dólares (algumas fontes citam $181.000), menos de 1/5 do seu valor original, facto que poderá ser explicado pela mudança de paradigma de mercado que as pérolas de cultura introduziram anos antes. A reaparecer, este colar seria alvo de grande cobiça e, porventura, grande agitação no mercado com a Cartier à cabeça a querer reave-lo para a sua coleção de peças únicas.
Este é, assim, um retrato no tempo numa época em que as pérolas se destacavam, e de que maneira, das demais preciosidades no mundo da joalharia e em que o seu valor era elevado ao ponto de se trocarem por mansões de luxo numa metropole sofisticada como já era, à época, Nova Iorque.
Agradecimentos: O autor agradece a Antoinette Mattlins o contributo precioso que deu com informações importantes para a história.
Adaptado da publicação na página de Facebook da Portugal Gemas a 17.01.2017
Adaptado da publicação na página de Facebook da Portugal Gemas a 17.01.2017
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